-->
-->
18.01.2023 | Comunicados

Posição da Associação BRP aos números da emigração jovem

Foram recentemente revelados, pelo Observatório da Emigração, os números nacionais da emigração relativos a 2021. Os mesmos apontam para que a redução da emigração em 2020 não se deveu à maior confiança dos portugueses no nosso país.

Mas será muito provavelmente atribuível às restrições impostas pelos vários países relativamente à circulação de pessoas decorrentes das medidas de mitigação da pandemia COVID-19.

Apesar de em 2021 ainda terem existido várias restrições à liberdade de movimentação de pessoas, o número de emigrantes portugueses regressou a níveis elevados muito mais próximos dos verificados nos períodos pré-pandemia. Saíram do país mais 60.000 pessoas. Em 2019 foram 80.000. Nos últimos dez anos a média foi de 90 mil pessoas por ano.

Estes números refletem provavelmente apenas uma parte do número de portugueses que ficou indisponível para o mercado de trabalho português pois já não é preciso emigrar para sair de Portugal – a aceitação e adoção mais generalizada do trabalho remoto estará a mascarar as estatísticas de emigração.

A Associação Business Roundtable Portugal (Associação BRP) está preocupada com a evolução dos níveis de emigração e com as suas consequências na sociedade, na economia e no país, destacando os seguintes motivos:

  • A população emigrante apresenta uma forte preponderância de jovens em idade ativa, o que agrava o Inferno Demográfico que o nosso país vive e a falta mão de obra que é transversal à economia;
  • A emigração qualificada tem aumentado a um ritmo maior do que a pouco qualificada, diminuindo a disponibilidade de jovens talentos com competências superiores e desperdiçando o enorme investimento do país na sua educação;
  • A fuga desta população ativa representa uma redução da receita fiscal e do consumo, o que impacta a execução do Orçamento do Estado, a (in)sustentabilidade da segurança social e a dimensão do mercado interno.

Os baixos salários – 42%1 inferiores à média da União Europeia -, a carga fiscal excessiva e o elevado custo de vida, em particular da habitação nos principais centros urbanos, impedem os jovens de alcançar a sua independência e prejudicam a atratividade do nosso país e motivam a sua saída.

Em 2021, a taxa de desemprego jovem foi de 23%2, 54% dos contratos de trabalho celebrados eram temporários3 e, em 2019, 30% dos trabalhadores jovens eram sobrequalificados para as funções desempenhadas2. Não estamos a proporcionar aos jovens as condições de realização pessoal e profissional necessárias para permanecerem em Portugal.

Os jovens devem ter a oportunidade de ter um futuro de sonho em Portugal. Para tal, temos de renovar a ambição e sentido de urgência para a mudança, criando melhores condições para o crescimento económico e a criação de riqueza. O Orçamento do Estado para 2023 apresenta medidas que vão na direção certa, como seja o alargamento do IRS Jovem, no entanto temos de ser mais ambiciosos.

Como evitar a fuga dos portugueses?

É absolutamente urgente encontrar soluções para atrair e reter os milhares de profissionais qualificados que são formados em Portugal. Um desafio que cabe às empresas e ao Estado responder.

Precisamos de assegurar melhores salários, tanto pelo aumento da remuneração como pela redução da carga fiscal e do custo de vida, melhores oportunidades de carreira e um maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional, ou seja, melhores condições de vida.

A Associação BRP está disponível para contribuir para este objetivo de termos um país mais promissor e atrativo para os nossos jovens. A bem de Portugal e dos portugueses.

[1] De acordo com o Eurostat, o salário médio em Portugal ascendeu em 2021 a 19,3 m€, o que compara com a média da EU de 33,5 m€.

[2] De acordo com o PorData, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a taxa de desemprego total em 2021 ascendeu a 6,6%, o que compara com uma taxa de desemprego no grupo etário com menos de 25 anos de 23,4%.

[3] De acordo com o “Livro Branco: Mais e Melhores Empregos para os Jovens”, da Fundação José Neves, 53,9% dos contratos de trabalho da população entre os 15 e os 24 anos são temporários, o que compara com 14,6% na população ativa total (15-64 anos). Em 2019, 30,2% dos jovens eram sobrequalificados para as funções que desempenhavam.