É com elevado sentido de responsabilidade e missão que assumo a presidência da Associação BRP. Estou, juntamente com a restante Direção, empenhado em ampliar a influência e o impacto das nossas propostas e iniciativas na sociedade e no país, de formar a concretizar a ambição de crescimento que reclamamos para Portugal.
Vivemos uma era de transformações globais sem precedentes. A ascensão da Inteligência Artificial, a transição digital e as mudanças climáticas estão a moldar o futuro das economias, criando vencedores e vencidos. Para Portugal, este momento representa uma oportunidade singular de reforçar a sua competitividade e melhorar a qualidade de vida dos portugueses. O 2º Snapshot da Associação Business Roundtable Portugal (BRP) traça um diagnóstico claro e urgente: o futuro do país depende das decisões que tomarmos hoje.
Riqueza e Crescimento Sustentado: O Objetivo Nacional
Melhorar a qualidade de vida dos portugueses exige um aumento significativo da riqueza do país. Apesar da recuperação recente do PIB per capita, continuamos a divergir da média europeia. Desde 2000, o crescimento acumulado do PIB português foi de apenas 26,3%, comparado com 41,2% na UE e 61,9% nos países concorrentes identificados no Comparar para Crescer. Este desempenho coloca-nos longe das metas que deveriam guiar o nosso desenvolvimento económico.
Portugal tem de regressar ao top 15 europeu em riqueza per capita. Este objetivo não é apenas uma questão de estatística; é uma necessidade para garantir melhores condições de vida, maior justiça social e uma economia robusta, capaz de resistir a choques externos.
Produtividade: O Desafio Estrutural
A produtividade nacional é um dos principais entraves à nossa competitividade. Em 2023, a produtividade por hora em Portugal era apenas 71% da média da UE, um nível estagnado desde o início do século. Este défice reflete-se em salários mais baixos e numa menor capacidade de investimento.
Uma das razões para este cenário é a falta de grandes empresas no tecido empresarial. Apesar de representarem apenas 0,2% do total de empresas, as grandes empresas contribuem com mais de 30% do Valor Acrescentado Bruto e 1/3 da receita de IRC. Estas empresas geram mais valor, criam empregos de qualidade, pagam melhores salários, têm maior capacidade de investir – dinamizam a economia. Portugal precisa de promover um ambiente que permita às PME crescerem e tornarem-se grandes, e às grandes empresas tornarem-se globais.
Para isso, é fundamental acabar com a discriminação pela dimensão e penalização do sucesso empresarial. A ambição de crescimento deve ser incentivada, e não desencorajada.
O Papel do Investimento: Alavanca de Futuro
Investimento é fundamental para o crescimento. No entanto, Portugal apresenta uma das taxas de investimento mais baixas da União Europeia: apenas 19,4% do PIB em 2023, contra uma média europeia de 22,3%. Esta insuficiência compromete a modernização da nossa economia e o aumento da produtividade a longo prazo.
É urgente aumentar o investimento público e privado, direcionando recursos para setores estratégicos como infraestruturas tecnológicas, transição energética e inovação. Estes investimentos não só melhoram a competitividade do país, como criam as condições para a emergência de novos setores de alto valor acrescentado.
A inovação deve ser o motor deste crescimento. Temos de implementar mecanismos ágeis para transformar conhecimento em valor económico, garantindo que Portugal não fique para trás na adoção de novas tecnologias. A capacidade de competir globalmente depende da nossa habilidade para nos posicionarmos em mercados de bens e serviços de alta tecnologia. Atualmente, exportamos cerca de 50% do PIB, mas devemos ambicionar níveis próximos de 80%, como na Bélgica e nos Países Baixos.
Disciplina Orçamental: Um Alicerce Indispensável
A redução do peso da dívida pública para 99% do PIB foi um passo importante, mas insuficiente. Portugal precisa de continuar a reduzir o endividamento público para garantir sustentabilidade financeira, manter a confiança dos mercados e reduzir os custos de financiamento, condições necessárias para os investimentos cruciais à transformação económica do país.
Um sistema fiscal mais competitivo é igualmente indispensável, para as empresas e para as pessoas. Portugal tem um “garrote fiscal” – tax wedge – de 42,3%, um dos mais elevados da OCDE, o que torna o custo do trabalho excessivamente oneroso e afeta a nossa capacidade de atrair e reter talento. Urge implementar reformas fiscais que incentivem o investimento, promovam o emprego e dinamizem a economia.
O Apelo à Ação: Construir um Portugal de Futuro
Portugal está numa encruzilhada. O caminho que escolhermos hoje determinará o nosso futuro. Temos de ser ambiciosos e agir coletivamente. Os setores público e privado devem trabalhar em conjunto para implementar políticas que impulsionem a competitividade, reforcem a inovação e promovam o crescimento sustentável. A análise da BRP é um alerta, um guia e um action tank: oferece dados e caminhos para a transformação de Portugal.
A responsabilidade é nossa, e o tempo é agora. Se quisermos ser protagonistas nesta nova era de transformação global, temos de agir com determinação e visão. Portugal tem o potencial de ser um dos vencedores desta revolução. Está nas nossas mãos garantir que assim seja.
Vasco de Mello, Membro da Direção da Associação Business Roundtable Portugal
Aceda ao artigo online.