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03.12.2024 | Notícias - Observador

Portugal na encruzilhada da competitividade

Para sermos protagonistas nesta era de transformação global há que agir com determinação e visão. Portugal tem o potencial de ser um dos vencedores desta revolução. Está nas nossas mãos que assim seja
Portugal na encruzilhada da competitividade

Vivemos uma era de transformações globais sem precedentes. A ascensão da Inteligência Artificial, a transição digital e as mudanças climáticas estão a moldar o futuro das economias, criando vencedores e vencidos. Para Portugal, este momento representa uma oportunidade singular de reforçar a sua competitividade e melhorar a qualidade de vida dos portugueses. O 2º Snapshot da Associação Business Roundtable Portugal (BRP) traça um diagnóstico claro e urgente: o futuro do país depende das decisões que tomarmos hoje.

Riqueza e Crescimento Sustentado: O Objetivo Nacional

Melhorar a qualidade de vida dos portugueses exige um aumento significativo da riqueza do país. Apesar da recuperação recente do PIB per capita, continuamos a divergir da média europeia. Desde 2000, o crescimento acumulado do PIB português foi de apenas 26,3%, comparado com 41,2% na UE e 61,9% nos países concorrentes identificados no Comparar para Crescer. Este desempenho coloca-nos longe das metas que deveriam guiar o nosso desenvolvimento económico.

Portugal tem de regressar ao top 15 europeu em riqueza per capita. Este objetivo não é apenas uma questão de estatística; é uma necessidade para garantir melhores condições de vida, maior justiça social e uma economia robusta, capaz de resistir a choques externos.

Produtividade: O Desafio Estrutural

A produtividade nacional é um dos principais entraves à nossa competitividade. Em 2023, a produtividade por hora em Portugal era apenas 71% da média da UE, um nível estagnado desde o início do século. Este défice reflete-se em salários mais baixos e numa menor capacidade de investimento.

Uma das razões para este cenário é a falta de grandes empresas no tecido empresarial. Apesar de representarem apenas 0,2% do total de empresas, as grandes empresas contribuem com mais de 30% do Valor Acrescentado Bruto e 1/3 da receita de IRC. Estas empresas geram mais valor, criam empregos de qualidade, pagam melhores salários, têm maior capacidade de investir – dinamizam a economia. Portugal precisa de promover um ambiente que permita às PME crescerem e tornarem-se grandes, e às grandes empresas tornarem-se globais.

Para isso, é fundamental acabar com a discriminação pela dimensão e penalização do sucesso empresarial. A ambição de crescimento deve ser incentivada, e não desencorajada.

O Papel do Investimento: Alavanca de Futuro

Investimento é fundamental para o crescimento. No entanto, Portugal apresenta uma das taxas de investimento mais baixas da União Europeia: apenas 19,4% do PIB em 2023, contra uma média europeia de 22,3%. Esta insuficiência compromete a modernização da nossa economia e o aumento da produtividade a longo prazo.

É urgente aumentar o investimento público e privado, direcionando recursos para setores estratégicos como infraestruturas tecnológicas, transição energética e inovação. Estes investimentos não só melhoram a competitividade do país, como criam as condições para a emergência de novos setores de alto valor acrescentado.

A inovação deve ser o motor deste crescimento. Temos de implementar mecanismos ágeis para transformar conhecimento em valor económico, garantindo que Portugal não fique para trás na adoção de novas tecnologias. A capacidade de competir globalmente depende da nossa habilidade para nos posicionarmos em mercados de bens e serviços de alta tecnologia. Atualmente, exportamos cerca de 50% do PIB, mas devemos ambicionar níveis próximos de 80%, como na Bélgica e nos Países Baixos.

Disciplina Orçamental: Um Alicerce Indispensável

A redução do peso da dívida pública para 99% do PIB foi um passo importante, mas insuficiente. Portugal precisa de continuar a reduzir o endividamento público para garantir sustentabilidade financeira, manter a confiança dos mercados e reduzir os custos de financiamento, condições necessárias para os investimentos cruciais à transformação económica do país.

Um sistema fiscal mais competitivo é igualmente indispensável, para as empresas e para as pessoas. Portugal tem um “garrote fiscal” – tax wedge – de 42,3%, um dos mais elevados da OCDE, o que torna o custo do trabalho excessivamente oneroso e afeta a nossa capacidade de atrair e reter talento. Urge implementar reformas fiscais que incentivem o investimento, promovam o emprego e dinamizem a economia.

O Apelo à Ação: Construir um Portugal de Futuro

Portugal está numa encruzilhada. O caminho que escolhermos hoje determinará o nosso futuro. Temos de ser ambiciosos e agir coletivamente. Os setores público e privado devem trabalhar em conjunto para implementar políticas que impulsionem a competitividade, reforcem a inovação e promovam o crescimento sustentável. A análise da BRP é um alerta, um guia e um action tank: oferece dados e caminhos para a transformação de Portugal.

A responsabilidade é nossa, e o tempo é agora. Se quisermos ser protagonistas nesta nova era de transformação global, temos de agir com determinação e visão. Portugal tem o potencial de ser um dos vencedores desta revolução. Está nas nossas mãos garantir que assim seja.

Vasco de Mello, Membro da Direção da Associação Business Roundtable Portugal

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